São Paulo (SP) - Considerado atualmente um dos veleiros mais sofisticados do continente, o Atrevida acrescentará o glamour de sua saga de 99 anos à flotilha da 72ª Regata Santos-Rio, com largada em 4 de novembro ao meio-dia na Baía de Santos, após o Desfile de Barcos às 10h em frente ao Pier do Pescador, na Ponta da Praia. As classes convidadas pelos Iates Clubes de Santos (ICS) e Rio de Janeiro (ICRJ) são: ORC e VPRS, BRA-RGS, Mini 6.5, Clássicos e Bico de Proa.
Desde a completa restauração concluída em 2012, depois de 14 meses de estaleiro em Santos, a tripulação sonhava em levar o barco construído em 1923 no galpão da família Herreschoff, em Bristol (EUA), para competir em Ilhabela, sua sede atual. A disputa “inaugural” aconteceu de forma inédita na Semana de Vela de 2013, graças à impecável reforma que resgatou o sistema de velas e a mastreação originais, que ajudaram o Atrevida (ex-Wilfire) a conquistar fama e prestígio graças ao desempenho nas principais regatas da costa leste dos Estados Unidos, na primeira metade do Século XX.
"Com a instalação das novas velas e cabos, conforme a área vélica (dimensão das velas) do plano original, o barco ficou muito mais equilibrado e interessante de se velejar. O Atrevida se comporta hoje, como um veleiro mais leve, apesar das 90 toneladas", conta entusiasmado, Átila Bohm, timoneiro e imediato da embarcação de 29 metros desde 2008. A última vez em que o barco esteve no ICS foi em 2017, para a Regata Ilha dos Arvoredos.
Pelas suas características, o Atrevida correrá a Santos-Rio nas classes RGS e Clássicos. Será a terceira participação na desafiadora regata de 200 milhas náuticas (370 km), após 1954 e 1962. “A Santos-Rio exige muitas manobras, por isso teremos tripulação completa, com 14 integrantes, incluindo-se o comandante Alexandre Ferrari e o tripulante mirim Stefano Vidal, de 13 anos. Serão quatro timoneiros para as trocas de turno”, relata Átila.
Centenário de vitórias e requinte - A velocidade de velejada do Atrevida sob condições normais, com ventos médios, varia de 8 a 11 nós (até 20 km/h), situação que exige o esforço de 9 ou 10 tripulantes para que o veleiro possa atingir o seu melhor rendimento. “Vencemos a Refeno (Recife-Fernando de Noronha) entre os monocascos em 2019 e 2021 com apenas seis tripulantes porque não tem manobra, praticamente, e não se utiliza vela balão, o que reduz a demanda de trabalho”, conta Átila.
"O Atrevida é um barco fantástico às vésperas de completar 100 anos. Em 2023, ano do centenário, o comandante Alexandre pretende levar o barco para vários eventos em toda a costa brasileira. Para a Santos-Rio, esperamos nos próximos dias um vento sul-sueste de 12 ou 13 nós. Seria o ideal para velejarmos a uma velocidade média de 10 nós", deseja Átila.
Por onde veleja, o Atrevida destoa das demais embarcações pelo seu tamanho e pela sua beleza exclusiva. Com 95 pés de comprimento (29 metros), o barco restaurado resgata a charmosa aparência semelhante à do dia em que saiu do estaleiro em Bristol. Casco branco com um fio vermelho na linha d’água, velas também alvas com as bordas vermelhas e acessórios do convés em mogno de demolição e em aço inoxidável personalizados, com a gravação do nome do barco, trazem de volta o requinte e a nostalgia do modelo "Herreschoff 1923", encomendado por Charles Hardin, empresário de Boston e integrante do Eastern Yatch Club, de Nova York, por 76 mil dólares, na época.
Ponto de encontro de celebridades - Em 1949 o Wilfire, deixou Nova York com destino ao Brasil passando pelo Caribe. A viagem se estendeu até o Rio de Janeiro, onde foi comprado por um empresário brasileiro e passou a se chamar Atrevida. Durante 45 anos permaneceu na Baía de Guanabara e se tornou atração obrigatória para a recepção de artistas, políticos e esportistas internacionais em passagem pelo Brasil. Estiveram abordo do Atrevida, personalidades como Elvis Presley, os atores Alain Delon e Rita Hayworth, o diplomata americano Henry Kissinger, o tricampeão da Fórmula 1 Niki Lauda e a Miss Brasil Marta Rocha, entre outros destaques.
O resgate dos detalhes originais só foi possível com a colaboração do Museu Herreschoff, de Bristol, que disponibilizou os desenhos originais à MCP Yachts, estaleiro responsável pelo projeto de restauração. A mais alta tecnológica de navegação foi instalada sem que o veleiro perdesse as características da época em que foi construído. Ar condicionado, dessalinizadores, sistema de navegação por computador, içamento e operação de vela automáticos, misturam-se às réplicas das cristaleiras, sofás e outros móveis de bordo fiéis aos modelos originais.
Entre as conquistas que consagraram o Wildfire como um dos barcos mais "regateiros" da época, estão os títulos da Astor Cup (1923), Block Island Cup (1928) e Duke of Kent’s Cup (1937), além das "Fitas Azuis" (primeiro a cruzar a linha de chegada) na Newport Cup (1924) e na Navy’s Cup (1925). O barco traz também em seu currículo, participações na tradicional Regata Santos-Rio nas décadas de 1950 e 60. Atualmente, após a restauração, tem participado de regatas e eventos náuticos no Caribe e América do Sul.
Ary Pereira Jr - ary70jr@hotmail.com
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Atrevida na Semana de Vela de Ilhabela
(Mathias Capizzano / SIVI)
Atrevida em Ilhabela
(Aline Bassi / Balaio de Ideias)
Atrevida na Semana de Vela de Ilhabela
(Mathias Capizzano / SIVI)
Atrevida na Santos-Rio em 1954
(Revista Iate)
Largada da Santos-Rio em 1954
(Divulgação / Atrevida)
Atrevida no ICS em 2017
(Divulgação / Atrevida)