São Paulo (SP) - No momento em que o medalhista olímpico e tetracampeão mundial Bruno Prada é nomeado para a Comissão de Atletas da Confederação Brasileira de Vela, como um dos cinco velejadores eleitos, os detritos deixados pelos Jogos Rio 2016 vêm à tona com a Operação Unfair Play (jogo sujo), deflagrada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal após ação conjunta entre Brasil e França.
"A conta olímpica chegou. O legado dos Jogos não existiu e o esporte brasileiro vai andar 20 anos para trás" Assim reagiu Prada, o velejador mais votado pelos filiados à CBVela, diante de um escândalo que parecia eminente, envolvendo o Comitê Olímpico Brasileiro (COB), seu presidente Carlos Arthur Nuzman e a aparentemente promíscua realização da Olimpíada do Rio de Janeiro.
“Estas primeiras denúncias são apenas sobre a candidatura. Imagine quando a investigação tomar o rumo das obras e prestação de serviços? Pode ser um momento importante para que nosso esporte venha a ter novos dirigentes e líderes que tragam novo formato de gestão como, por exemplo, a limitação de mandato”, deseja Prada, considerado um dos melhores proeiros do mundo na classe Star.
Ganhador de duas medalhas olímpicas (prata e bronze) ao lado de Robert Scheidt e tetracampeão mundial de Star, o atleta do Yacht Club Paulista (YCP) obteve 94 votos. Também foram eleitos: Isabel Swan (RJ/71), Samuel Albrecht (RS/67), Bruno Bethlem (RJ/62) e Bruno Fontes (SC/60). Votaram em cinco candidatos, 280 velejadores registrados em suas respectivas federações estaduais.
Voto direto e transparência - A Comissão de Atletas, com mandato válido até 31 de dezembro de 2020, foi nomeada em 1º de setembro, quatro dias antes de o esquema da candidatura olímpica brasileira ser revelado pela Polícia Federal. Os representantes poderão compor colegiados e integrar chapas para eleição aos cargos de direção. A CBVela se torna assim, a primeira entidade olímpica do País a ter o voto para eleição presidencial aberto aos atletas, olímpicos ou não, além de oficiais de regatas e técnicos.
“Toda participação por voto direto é benéfica. A vela está criando o modelo que, enfim, atribui voz aos atletas. Por enquanto a Comissão está restrita aos olímpicos, mas no futuro será importante incluirmos a vela jovem, de oceano, categoria máster. Tudo a seu tempo”, avalia Prada, acostumado a ser chamado de ‘presida’ (presidente) pelos colegas da vela, devido à sua natural liderança nas causas em favor dos atletas.
“O COB deveria ser o primeiro a seguir o exemplo da CBVela, abrindo suas eleições aos atletas. O voto indireto foi extinto no País há 30 anos. Não podemos permanecer com essa prática. Não existe nada mais nocivo ao esporte. É o voto direto que garante legitimidade na escolha e evita o perpetuamento no poder. O exemplo começa de cima”, sustenta o multivencedor da vela, Bruno Prada.
Ary Pereira Jr - ary70jr@hotmail.com
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